sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Ignorância pluralística

Lendo o jornal certa vez, avistei esse conceito, mas não memorizei o nome dele apesar de ver-lhe os efeitos claramente no dia a dia. Dias atrás dei com ele novamente por acaso. Ignorância pluralística é a ação de não expressar a própria opinião ou atitude por força da indiferença do grupo. É se deixar levar pela opinião geral por acreditar não ser possível fazer nada sozinho.

O fenômeno foi recentemente estudado na sociedade brasileira e o pesquisador concluiu que aqui essa característica é mais destacada que em outros países. Como disse, ele perpassa nosso dia a dia, mas é em matéria de política que se torna mais evidente. Diariamente surgem novos casos de corrupção - sem que os anteriores tenham sido esclarecidos diga-se de passagem - e o que nós, brasileiros, fazemos? Nada.

Quando comecei a editar na Wikipédia lusófona, minha primeira wiki, imaginei quais seriam os efeitos da colocação em prática no mundo real da recomendação seja audaz. Sim, o próprio conceito de faça você mesmo compele à ação e trazido para o mundo real, descruzaria muitos braços.

Mas, ao contrário da imaginada por mim, há uma conexão maléfica entre a ignorância pluralística e a Wikipédia lusófona. Nela também é visível a pressão da indiferença do grupo contra a ação e a mudança. Aqui ela se expressa a partir do momento em que algumas coisas têm que ser resolvidas através da discussão e do consenso. É este o caso, por exemplo, dos critérios de notoriedade ou da prevalência das votações sobre o consenso. É muito mais fácil esperar uma votação, em que só é preciso colocar uma predefinição e uma assinatura, do que argumentar.

Para terminar é de notar esta frase citada na entrevista:

E, na cultura brasileira, quem se expõe tende a ser motivo de anedota. Quem se manifesta é badernista, desocupado.
Concordo. Inúmeras vezes já vi indivíduos criticarem um verbete, uma irregularidade na ação de outro indivíduo e pedirem ajuda, sendo a resposta costumeira a tentativa de humilhação pública ou a de fazer pouco caso do "manifestante". Aqui também é muito mais fácil usar-se argumentos ad hominem do que dar uma resposta clara e direta que resolveria o problema. Aqui também a indiferença da comunidade, como já disse, cria os trolls da Wikipédia lusófona que nesses dias pululam.

Finalmente o clima de "nada a fazer" na comunidade pelas arbitrariedades cometidas por um ou outro administrador permite que elas continuem. O que acontece fatalmente, inexoravelmente, com o indivíduo que questiona a ação de um ou vários administradores? Ao invés de se resolver o caso, coloca-se o mais rápido possível panos quentes sobre ele e o comportamento do "manifestante" é logo taxado de "desestabilizador" simplesmente por cobrar coerência nas ações de quem "carrega a wiki nas costas" - e que aliás fariam um bem a si e aos outros se tirassem o peso delas já que ninguém pediu tal favor. Contra cara-de-pau, ação! Contra indiferença, ação!

2 comentários:

  1. http://en.wikipedia.org/wiki/Spiral_of_silence

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  2. Desculpa a demora na resposta Patrícia. Acho que é isso mesmo. Lembro que falaste disto em algum lugar muito tempo atrás sobre esse mesmo fenômeno da Wikipédia lusófona. Não sabia que o conceito era tão novo também. Seria o caso de mover o verbete em português?

    Ocorreu-me um outro exemplo recentemente que seria mais forte que o da política: o problema da violência no Brasil também tem aí sua continuidade. Todos os dias vemos várias notícias de assassinatos e cada vez mais brutais e não fazemos nada.

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